sexta-feira, 29 de outubro de 2010

FIQUE DOENTE,ESTÁ NA MODA,SEJA MODERNO!!..


Receitas para ficar doente



Otávio Leal





Hoje é muito fácil adquirir doenças desde as mais simples as mais destruidoras, graves e mortais. Leia abaixo, dicas competentes e fáceis para adoecer.

• Beba muito álcool. Seja um escravo desse prazer ridículo e diminuto. Beba álcool e não namore. Acredita-se que 9% dos brasileiros são dependentes de álcool, inclusive alguns dos seus principais dirigentes. Beber e dirigir causa 60% dos acidentes com vítimas fatais e limitações físicas graves.

• Se a bebida alcoólica for insuficiente para criar um inferno em sua vida e dos próximos a ti, também seja viciado e escravo de jogos de azar, loterias, bingos, etc.

• Tome todos os remédios possíveis que estão na moda nas farmácias, preferindo os sem receitas e fuja da homeopatia que é ótima inclusive para se evitar desequilíbrios. Fique longe também de fitoterapia, tai-chi, Yoga, alimentação natural, vida saudável, argilaterapia, caminhadas, exercícios moderados, contato com a natureza.

• Sofra da coluna mantendo sempre uma má postura, vendo TV uma boa parte do dia jogado no sofá, sente-se por várias horas de forma incorreta, em automóveis, e no trânsito aproveite para se irritar, xingar, gesticular quando o mesmo está parado.

• Tenha o porco como um exemplo de alimentar-se caoticamente e sem limites. Eles vivem dormindo e pouco fazendo sexo. (O ideal é se alimentar muito da carne de porco para ser igualzinho a ele.) Não tenha como exemplo de vida os Yoguins sérios.

• Fique diabético (hoje é moda) consumindo muito açúcar. É fácil: Beba muito café com açúcar, sorvetes, massas, todo tipo de comida industrializada. No mercado. fuja dos orgânicos, das frutas e verduras. Prefira à seção de salgadinhos, bolachas, patês de carnes em geral, congelados e encha o carrinho.

• Vícios como o álcool e drogas alucinógenas causam impotência, a demência lesa os órgãos digestivos e se você não morrer nas mãos de um traficante, ou num acidente, você pode cultivar um bom câncer de estômago ou fígado que te ajudará a “viajar no barato” da quimioterapia.



• Quando visitar uma livraria compre livros de receitas gordurosas além de assistir na TV, a tarde, os programas que ensinam receitas deliciosas cheias de gordura e açúcar. Não beba líquidos nem chás diuréticos como a pata de vaca, não faça jejum, almoce todos os dias no self service com sobremesa incluída, não use cereais integrais, missô, sal marinho, açúcar mascavo ou mel, saladas frescas ou frutas em geral.

• Cultive e preserve uma enorme barriga consumido muita cerveja e refrigerante (dilatam o estômago).
Ande muito de carro o que ajuda a poluir o planeta e com o pagamento de impostos, sustenta os parasitas que supostamente dirigem o País, fique sentado em sofás “confortáveis” sofra de prisão de ventre, tenha gases e seja um conformista acreditando que sua barriga é genética. Atenção: não pratique o Yoga que equilibra o sistema glandular e nem artes marciais sérias como Karatê-do, Kung fu, Aikidô e Iai-Dô.

• Engula suas emoções e sentimentos e tenha preconceito que terapia é para loucos. Não faça o grupo Anima Soma da Humaniversidade que pode lhe conduzir a uma vida plena e feliz e nem outras formas competentes de terapias como a Junguiana.

• Viva sempre estressado, correndo muito, trabalhe muito e cada vez mais, trabalhe com algo que odeie, não siga suas vocações e desenvolva uma úlcera digestiva, gastrite nervosa, insônia, bruxismo e desenvolvendo isso tome seus analgésicos, antibióticos, ansiolíticos, calmantes, vá sempre a consultas médicas e você ficará muito feliz com o atestado que o médico te dará de 2 dias em casa. Hoje é normal ser dependente de remédios assim jamais faça meditação, dança sagrada, Liang Kung, Chi-Kung – pois isso te daria paz.

• Eduque seus filhos para serem doentes não dando amor, atenção, ternura, e obrigando os mesmos a serem falsos e mentirosos. Matricule-os em esportes competitivos e em escolas que ensinam matérias (conhecimento) e jamais que ensinem vida (sabedoria).
Não dialogue com os mesmos, principalmente sobre sexo que quando ensinado deve ser apontado como algo sujo e pecador. Não abrace ou massageie seus filhos, pois isso é tão terapêutico que não terás filhos doentes.

• Saiba que é fácil ter problemas menstruais e corrimento vaginal, tanto é, que 92% das mulheres o tem. Coma todo tipo de alimento industrializado, não viva grandes amores e não utilize banhos fitoterápicos de assento, própoles, pólen, chás como nabo e alho, não pratique Do-in e acupuntura e não utilize emplastos de argila (consulte um naturopata)

• Consuma ao máximo tudo que você vê nas propagandas da TV, do computador e navegando na net. Aproveite ainda para criar tendinite, perder preciosas horas de meditação, oração, leitura saudável ou de sono nos msn’s, orkut’s, nas pornografias e mantendo-se isolado, sem intimidade com os outros seres, cultural ou intelectual.

• Não estude investindo assim em ignorância. Quando estudar algo, desista no meio o que é um ótimo exemplo para seus filhos. Quem estuda é mais inteligente e tem saúde cerebral, assim não leia nenhum livro para que possas cultivar uma genialidade como teus líderes políticos.



• Torne-se cada vez mais preguiçoso, evite as caminhadas, principalmente ao ar livre. Corridas leves são indicadas a quem busca saúde o que não é o caso dessas receitas. Seja sedentário e quando for fazer eventualmente algum esporte prefira o futebol aos finais de semana, que além de estimular a competição, e não a solidariedade, ainda pode lesionar os joelhos.

• Em toda sua vida nunca faça monodietas ou jejum. Também não faça peregrinações espirituais, meditação ZEN, sexo tântrico ou dieta do Limão.

• Alimente-se com muitas salsichas, presunto, frituras, margarina, gorduras abundantes, feijoada que em alguns restaurantes são servidas diariamente (aproveite), carnes em geral optando pelas calabresas e todos os derivados de porco.

• Não tenha força de vontade jamais. Coma muitos doces, sorvetes, alimentos enlatados sem limites.
Se entregar a vícios e hábitos negativos é melhor do que persistir e superar a si mesmo. Ser controlado pelos hábitos negativos é melhor do que ser forte e persistente, não se inspire em líderes de verdade como Gandhi, Tereza, Coen, Dolano, Mandela, Dalai Lama, dentre outros que se superaram e renasceram como seres humanos de verdade.

• Não fique próximo a natureza. Em momentos de lazer prefira os shoppings principalmente, aos sábados e domingos onde os mesmos ficam lotados com pouco ar puro, muito barulho e valores materialistas. Leve seus filhos desde pequenos aos shoppings, principalmente quando estão lotados, assim estarão ensinando o consumismo e os estressarão com locais caóticos e barulhentos.

• Prefira desistir de tudo o que inicia. É ótimo deixarmos uma série de situações mal resolvidas e abertas em nossa vida. O ideal é ficarmos relaxando tudo e adiando tudo para um futuro ilusório. Desistir também é um ótimo exemplo que deixamos para quem tem família. (Amanhã é uma miragem).

• Invista todo seu tempo em ter um corpo idealizado pelo Big Brother, não o saudável, por que o importante é a estética, não o equilíbrio. Faça exercícios físicos que te deixam musculoso ou te estimulem a violência, mas corra do Yoga (que te traz paz e saúde) Tai-chi chuan (longevidade e equilíbrio), dança (celebração da vida).

• Tome ansiolíticos ao invés de fazer exercícios respiratórios, soníferos ao invés de praticar relaxamentos ou fazer massagens.

• Assista muita novela e entre em discussão sobre futebol, política, vida de artistas, Big Brother, e outras pérolas do saber e da paz, assim você será conhecido como uma pessoa normal. Evite arte, teatro, (quanto tempo faz que não assiste?) dança, naturismo, cultura, etc.

• Tenha expectativas positivas de todos os órgãos municipais, estaduais e federais assim você ficará “louco de raiva” quando precisar dos mesmos. Confie plenamente no seu sistema de saúde, segurança, justiça, leis, educação e faça todo o possível para depender dos mesmos.

• Viaje sempre em feriados prolongados por exemplo no carnaval, páscoa e no final do ano, para lugares abarrotados de pessoas o que impede a reflexão a paz e prejudicam a natureza. Jamais busque refúgios em lugares silenciosos, não faça “jejum” de palavras ou jornadas espirituais silenciosas como Santiago de Compostela.

• Quem mora em São Paulo é facílimo ter um infarto ou uma vida miserável: Irrite-se no trânsito e tenha esperança de que seus prefeitos e governantes façam algo ao invés de só cobrarem impostos. Irrite-se com os impostos cobrados pelos parasitas no início do ano e vote ou trabalhe para eles.

• Mastigue pouco os alimentos e beba líquidos com pedras de gelo (causam má digestão e enfraquecimento do estômago). Isso é ótimo para desenvolver a úlcera, atrapalhar a digestão, criar gases. Se isso acontecer, corra até a farmácia e use aquele remédio milagroso que foi indicado pela sua amiga/vizinha.

• Envelheça antes do tempo ou tenha uma velhice doentia tendo uma vida com desgaste emocional, pense só em dinheiro e não faça meditação e nem oração. Faça tudo o que a “sociedade” aconselha e assim será um idoso decrépito bem antes do tempo.

“Os homens... Eles perdem a saúde para juntar dinheiro, depois perdem o dinheiro para recuperar a saúde. E por pensarem ansiosamente no futuro, esquecem do presente de tal forma que acabam por não viver nem o presente, nem o futuro.

E vivem como se nunca fossem morrer...
E morrem como se nunca tivessem vivido...”
Dalai Lama

• Alimente-se todo o tempo e evite os jejuns e monodieta. Ingira muitas frituras, coxinhas, bolinhos, guloseimas e tudo o que for encharcado de óleo reutilizado e não esqueça da gordura artificial.

• Perca o controle, quando não localizar um local para estacionar seu carro ou por ter um transporte público de péssima qualidade. Desenvolva seu stress por isso, que além de acabar com sua vida faz a alegria dos seus dirigentes, assim como crie expectativas dos atendimentos sempre educados e rápidos de alguns órgãos governamentais.

• Use dentaduras e faça implantes dentários ainda na juventude não utilizando fio dental e nem escovando corretamente os dentes.

“As autoridades sanitárias mandam aplicar flúor na água das torneiras, e é bom você ficar feliz com isto. Não que esse tipo de flúor tenha alguma influência na questão das cáries, mas porque, ingerindo constantemente flúor nos alimentos e nos cremes dentais, você pode adquirir outras doenças cuja relação de causa e efeito com o flúor talvez seja difícil, mas possível, como o câncer, a osteoporose, as colagenoses, a arteriosclerose e diversas doenças renais.”

Marcio Bontempo

• Não viva um dia sequer sem produtos com aditivos químicos, açúcar branco, carne principalmente de vaca (visite muitas churrascarias e ajude a acabar com o planeta junto com sua saúde, afinal quem destrói não está nem aí para o próximo). Use pães e massas brancas, sal refinado, frutas e legumes com agrotóxicos, álcool, tabaco e assim terá prisão de ventre, constipação, mau hálito.



• Jamais conheça o sistema de alimentação vegetariano, naturalista, vegano, cereais integrais, ervas medicinais, frutas, saladas, aurículopuntura, massagens, yoga, tai- chi, meditações.

• Trate todos seus relacionamentos afetivos como coisas e não como seres humanos. Seja autoritário, repressor ditatorial, ciumento, grosso e não dê amor, carinho. Assim terão uniões amorosas com seres desequilibrados e medrosos.

• Perca sua vida agora, esqueça de viver, sempre se preocupando com o futuro. Não viva agora e sim tenha o pensamento voltado para o que virá. Todos os mestres ensinam que a chave da felicidade esta no agora, mas não escute isso.

• Perca o contato com o sagrado sendo uma pessoa cruel, insensível, desumana e preconceituosa. Para isso é fácil: Leia e assista programas violentos, aceite líderes psicóticos, trabalhe em empresas anti ecologia, perversas, injustas (são aceitas pelas leis dos homens, mas isso não quer dizer nada). Se quer continuar assim, não freqüente a Humaniversidade, não conheça os Mestres Osho, Ramana, Dolano, Ram Dass, Monja Coen e tantos outros iluminados que hoje habitam o planeta.
Texto de Otávio Leal (Dhyan Prem)

• Esse texto muito baseado e inspirado no trabalho do médico naturalista Márcio Bontempo que foi, e é um de meus mestres e da Humaniversidade na área naturalista, de qualidade de vida, idealismo, amor ao planeta, garra e competência.


• O Dr. Márcio Bontempo ensina essa receita extraordinária para ficarmos doentes. Mãos a obra:

FEIJOADA SUCULENTA



Ingredientes:
200 g de focinho de porco
200 g de rabo de porco
200 g de pé de porco
350 g de costela salgada de porco
250 g de paio
250 g de lingüiça de porco
200 g de lingüiça de vaca
400 g de carne seca
350 g de toucinho fresco de porco
100 g de toucinho defumado de porco
(Obs.: Não seria melhor colocar um Porco inteiro?)

Modo de preparar:
Deixar de molho, de véspera, as carnes salgadas, separadas umas das outras. No dia seguinte, fervê-las separadamente, para tirar bem o sal. Numa panela grande, um quilo de feijão preto de modo tradicional. Numa maior, juntar as carnes, acrescentando como tempero louro, cheiro verde, cebola e Pimenta-do-reino a gosto. Servir com arroz, couve picada, laranja e caipirinha com bastante açúcar e gelo.

Efeitos:
Se a feijoada não provocar indigestão, diarréia, cólicas e tenesmo logo após a refeição, ajudará a causar outros problemas. O excesso de gorduras polissaturadas e pesadas, quando não ataca de imediato a vesícula e o fígado, enriquece o sangue de material graxo ultrapesado, favorecendo a deposição de gorduras nas artérias, no coração, no fígado, nos rins e assim por diante. Podemos dizer que a feijoada é o prato mais rico do mundo em matérias gordurosas. Meia hora após a ingestão de uma feijoada, se retirarmos uma amostra de sangue venoso, ele estará esbranquiçado, devido à grande quantidade de partículas de gordura dissolvidas. Se este mesmo sangue for colocado em um recipiente para descansar, as partículas gordurosas tenderão a se juntar, formando uma imensa gota de sebo.

Basta ingerir semanalmente este delicioso prato para contrair as seguintes doenças: obesidade, distensão abdominal, putrefação intestinal, arteriosclerose cerebral, aterosclerose coronariana, aterosclerose generalizada, infarto do miocárdio, angina pectoris, reumatismo, artrite, gota, lipomatose, cistos sebáceos, envelhecimento precoce, discinésia vesicular, gastrite, colite, enterite, hemorróidas, varizes, pressão alta, retenção de líquidos, glaucoma e outras.

Bom apetite!

Obs.: Na impossibilidade de preparar uma feijoada fresca, ou mesmo por preguiça, adquira a feijoada enlatada, cujos efeitos são ainda piores.

quinta-feira, 14 de outubro de 2010

'Lullaby' ~ Loreena McKennitt

SER DEUSA!!....

MULHERES & DEUSAS: ATÉ QUE A DEUSA ACORDE NO CORAÇÃO DE TODAS MULHERES...
MULHERES, NÃO NOS ESQUEÇAMOS, NÓS

"Servimos de parteiras às consciências umas das outras.”

"Devemos lembrar-nos como e quando cada uma de nós passou por uma experiência da Deusa, e se sentiu sarada e integral por causa desta. São momentos santos, sagrados, intemporais, embora por mais inefáveis que se possam revelar, sejam difíceis de reter em palavras. Mas, quando qualquer outra pessoa menciona uma experiência semelhante, isso pode evocar as sensações que voltam a captar a experiência; se bem que só aconteça se falarmos da nossa vivência pessoal. É por isso que necessitamos de palavras para os mistérios das mulheres, o que parece exigir que uma de cada vez explicite o que sabe - como tudo o mais que é de foro feminino. Servimos de parteiras às consciências umas das outras.”
(...)
IN TRAVESSIA PARA AVALON
De Jean Shinoda Bolen

A SUAVE PANTERA




A Suave Pantera



I
Como qualquer animal,
olha as grades flutuantes.
Eis que as grades são fixas:
Ela, sim, é andante.
Sob a pela, contida
- em silêncio e lisura -
a força do seu mal,
e a doçura, a doçura,
que escorre pelas pernas
e as pernas habitua
a esse modo de andar,
de ser sua, ser sua,
no perfeito equilíbrio
de sua vida aberta:
una e atenta a si mesma,
suavíssima pantera.


II
É suave, suave, a pantera,
mas se a quiserem tocar
sem a devida cautela,
logo a verão transformada
na fera que há dentro dela.
O dente de mais marfim
na negrura toda alerta,
e ser do princípio ao fim
a pantera sem reservas,
o fervor, a força lúdica
da unha longa e descoberta,
o êxtase da sua fúria
sob o melindre que a fera,
em repouso, se a não tocam,
como que tem na singela
forma que não se alvoroça
por si só, antes parece,na mansa, mansa e lustrosa
pelúcia com que se adorna,
uma viva, intensa jóia.



III
Uma intensíssima jóia,
do próprio sangue animada,
tão preciosa, tão preciosa,
que é preciso não tomá-la.
Que duro sangue a vermelha!
Que silêncio a não reparte!
Em si mesma reluzente
a inteira imobilidade.
Mas o ardor, esse deleita,
com que a jóia se transforma,
se se move, no animal
que a própria jóia comporta.
O cuidado – isso extasia -
com que a jóia se transmuta:
com patas, pernas e olhar
onde se extrema outra fúria.


IV
Mas é no amor que essa fúria
alcança de si o máximo.
À parte qualquer luxúria,
à parte a falta de tato,
se se alça e ganha a medida
de seu corpo todo casto,
há que lhe ver a esbelta e lisa
figura de todo lado,
quando toda se descobre
- como um cristal se estilhaça -
amando a vida, ai, amando
a vida que passa, passa.
Tão projetada num sonho,
nem se diria uma fera,
contida, casta e polida,
com tanto furor interno.
V
Com tanto furor interno,
quem a livra, quem a livra
de ser o seu próprio inferno,
de, pelo fogo da ira,
consumir-se estando quieta,
de acabrunhar-se sozinha.
Nem se diria uma fera!
Nem se diria rainha!
As patas pisando o chão
têm uma dura leveza,
os pelos brilhando de ônix,
- de si mesma prisioneira -
caminha de um lado a outro
como pelo mundo inteiro.
Há esmeraldas de silêncio
nos seus olhares acesos.
VI
O olhar tão aceso
revela, revela.
Que força de abismo
na virgem pantera.
Que força de amor
na sua recusa;
o ventre cerrado
- quem julga? quem julga?
e a sua ventura
violenta, sedenta,
ensaiados membros
em surda paciência.
É vaga e concreta,
como que inspirada:
flutua em si mesma,
parada, parada.
VII
Parada, parada,
quase se humaniza,
todo o viço de asas
na cara tranqüila,
flexuosa aspirando
- quem mata, quem mata?
Como uma pessoa
de forma coleada.
No entanto a narina,
no entanto a pupila
- relevos de sombra -
ah, se a denunciam
mais que uma pessoa,
poderosa e bela:
macia, macia,
esplêndida fera.
VIII
Esplêndida fera:
onírica e lúbrica
como pode às vezes
ser uma pantera.
Negra ela rebrilha,
presente a si mesma,
como se invadida
de uma luz avessa,
como adiamantada
de uma luz escura,
afoita e inefável
quem a subjuga?
Afoita e inefável
qual nenhuma besta,
cingida ao que em si
é a sua natureza.
IX
É da sua natureza
ser apenas o que a anima:
uma força elementar
como uma raiva contida,
uma violenta doçura
que bruscamente a delira
de si mesma, de si mesma,
- tão fogosa e volitiva!
Tão puramente animal
na graça oblíqua e felina!
Com uma forma tão espessa
que parece refluída.
Compraz-se em ser o seu corpo
com a mesma selvageria
com a mesma libação
todo o ímpeto se amotina.
X
A forma espessa da pantera,
um tal negrume e tal pelúcia,
às vezes quase que a confundem
com todas as demais panteras,
mas só naquilo que por fora
tem uma existência concreta,
naquilo só que se objetiva
formosamente sobre a relva:
olhos detidos de tão verdes,
corpo luzindo sobre as pernas,
um certo modo de mover-se
sobre si mesma, terna e quieta.
Porque ela é igual só a ela mesma,
se com ardor alguém a observa,
mas por dentro, tão escondida
como no fundo da ostra a pérola.
XI
Como no fundo da ostra e pérola
ela se deita veludosa,
mas anda com patas rebeldes
seu coração com uma glória.
Tem um ritmo de silêncio
a força com que ele desprega
as patas a cada momento,
numa espécie de ânsia secreta.
Violento é o sono do seu corpo,
mas sem aspereza nenhuma,
igual à queda de uma coifa
brusca e silente na verdura,
sem direção, igual à paina
mas uma paina concentrada,
mas uma paina vigorosa,
seu sono cego, cheio de asas.
XII
Se adormece a pantera
ou se acorda suavíssima,
é sempre a mesma fera
repousada e instintiva.
Há quem pense em veludo
ou cetim, contemplado
o pelame felpudo
e o deslizar tão brando.
Quieta ou em movimento,
há qualquer coisa nela
que lembra um monumento
pelo que ele revela:
um certo porte airoso
que o tempo não consome,
e um fruir-se gasoso,
que na fera é uma fome.
XIII
A fome de um bicho
- e mais se é pantera,
não tem o limite
que em gente tivera.
Não é como a fome
violenta, direta,
subjetiva, do homem,
a fome da fera.
A fome de um bicho
é cruel e eterna,
e toda inconsciente,
com uma força interna.
É fome indistinta
espalhada nela,
com íntima fúria
que ela não governa.
XIV
A liberdade da pantera
está justamente nisto:
que nem ela se governa,
e o que sucede é imprevisto.
Essa a vantagem da fera:
uma força que ela abriga,
inconsciente, dentro dela
- sob a aparência tranqüila -
e de repente se revela,
mas uma espécie de fúria,
que atinge inclusive a ela,
mas numa espécie de luta,
que é o modo que tem a cólera
de mostrar-se numa fera,
e que é a sua única forma
de ser pura, além de bela.

XV
Outra vantagem da pantera
é que sendo ela tão precisa,
tão colada ao próprio contorno,
não é, como um mastro, fixa,
e nem se aguça como um mastro,
apesar de constante e seca,
apesar de brilhante e fria
como um mastro ostentar sua seda,
apesar de picar-se toda
como um mastro, de luz marinha;
ela é flexível e se encolhe
(o que já não sucederia
com mastro algum) ou bem se alarga,
em contínuo fluxo e refluxo,
como a onda em espasmos de onda,
fiando-se no seu próprio fuso.
XVI
Além de precisa é ubíqua,
outra vantagem mais forte.
Por toda parte é sensível
sua graça, como um broche,
ou como coisa pousada
e em si mesma repentina:
os olhos onde violetas
cobram cores agressivas,
a cauda suspensa e lisa
como nuvem sossegada,
não solta, não qualquer nuvem,
nuvem presa como uma asa,
o corpo todo concreto,
todo animal, perecível,
e mais uma ânsia por dentro,
de ser livre, livre, livre.

"OS 4 INIMIGOS NATURAIS DO HOMEM DE CONHECIMENTO"




Em nossas conversas, Dom Juan sempre usava ou se referia à expressão “homem de conhecimento”, mas nunca explicava o que queria dizer com isso. Perguntei-lhe a respeito.

- Um homem de conhecimento é aquele que seguiu honestamente as dificuldades da aprendizagem – disse ele. – Um homem que, sem se precipitar nem hesitar, foi tão longe quanto pôde para desvendar os segredos do poder e da sabedoria.

- Qualquer pessoa pode ser um homem de conhecimento?

- Não; não qualquer pessoa.

- Então o que é preciso para se tornar um homem de conhecimento?

- O homem tem que desafiar e vencer seus quatro inimigos naturais.

- Ele será um homem de conhecimento depois de vencer esses quatro inimigos?

- Sim. Um homem pode chamar-se de homem de conhecimento somente se for capaz de vencer os quatro.

- Então, qualquer pessoa que conseguir vencer esses inimigos pode ser um homem de conhecimento?

- Qualquer pessoa que os vencer tornar-se um homem de conhecimento.

- Mas há algum requisito especial que o homem tenha de atender antes de lutar contra esses inimigos?

- Não. Qualquer pessoa pode tentar tornar-se um homem de conhecimento; muito poucos homens o conseguem, realmente, mas isso é natural. Os inimigos que um homem encontra no caminho do saber para tornar-se um homem de conhecimento são realmente formidáveis; a maioria dos homens sucumbe a eles.

- Que tipos de inimigos são, Dom Juan?

Recusou-se a falar sobre os inimigos. Disse que se passaria muito tempo até que o assunto fizesse sentido para mim. Procurei manter a conversa a perguntei-lhe se eu poderia me tornar um homem de conhecimento. Respondeu que ninguém poderia dizer isso ao certo. Mas eu insisti para saber se havia algum indício que ele pudesse usar para saber se eu tinha ou não possibilidade de me tornar um homem de conhecimento. Falou que dependia de minha luta contra os quatro
inimigos – se eu conseguiria derrotá-los ou ser derrotado por eles – mas que era impossível prever o resultado dessa luta.

Perguntei-lhe se ele podia usar feitiços ou adivinhação para ver o resultado da luta. Declarou claramente que os resultados da luta não poderiam ser previstos por meio algum, porque tornar-se um homem de conhecimento era uma coisa temporária. Quando eu pedi que ele explicasse isso, respondeu:

- Ser um homem de conhecimento não tem permanência. Nunca se é um homem de conhecimento. Não de verdade. Ou antes, a pessoa se torna um homem de conhecimento por um instante muito breve, depois de derrotar os quatro inimigos naturais.

- Você tem que me dizer, Dom Juan, que tipos de inimigos eles são.

Não respondeu. Torno a insistir, mas ele mudou de assunto e começou a falar sobre outra coisa.

Domingo, 15 de abril de 1962

Quando eu estava me preparando para partir, tornei a lhe perguntar acerca dos inimigos do homem de conhecimento. Argumentei que ia passar algum tempo sem voltar, e que seria uma boa idéia escrever as coisas que ele tivesse a dizer e pensar e pensar a respeito enquanto estivesse fora. Hesitou um pouco, mas depois começou a falar:
- Quando um homem começa a aprender, ele nunca sabe muito claramente quais seus objetivos. Seu propósito é falho; sua intenção, vaga.
Espera recompensas que nunca se materializarão, pois não conhece nada das dificuldades da aprendizagem.

“Devagar, ele começa a aprender… a princípio, pouco a pouco, e depois em porções grandes. E logo seus pensamentos entram em choque. O que aprende nunca é o que ele imaginava, de modo que começa a ter medo. Aprender nunca é o que se espera. Cada passo da aprendizagem é uma nova tarefa, e o medo que o homem sente começa a crescer impiedosamente, sem ceder. Seu propósito tornar-se um campo de batalha.

“E assim ele se deparou com o primeiro de seus inimigos naturais: o Medo! Um inimigo terrível, traiçoeiro, e difícil de vencer. Permanece oculto em todas as voltas do caminho, rondando, à espreita. E se o homem, apavorado com a sua presença, foge, seu inimigo terá posto um fim à sua busca.

- O que acontece com o homem se ele fugir com medo?

- Nada lhe acontece, a não ser que nunca aprenderá. Nunca se tornará um homem de conhecimento. Talvez se torne um tirano, ou um pobre homem apavorado e inofensivo; de qualquer forma, será um homem vencido. Seu primeiro inimigo terá posto fim a seus desejos.

- E o que ele pode fazer para vencer o medo?

- A resposta é muito simples. Não deve fugir. Deve desafiar o medo, e, a despeito dele, deve dar o passo seguinte na aprendizagem, e o seguinte, e o seguinte. Deve ter medo, plenamente, e no entanto não deve parar. É esta a regra! E o momento chegará em que o seu primeiro inimigo recua. O homem começa a se sentir seguro de si. Seu propósito torna-se mais forte. Aprender não é mais uma tarefa aterradora. Quando chega esse momento feliz, o homem pode dizer sem hesitar que derrotou seu primeiro inimigo natural.

- Isso acontece de uma vez, Dom Juan, ou aos poucos?

- Acontece aos poucos e no entanto o medo é vencido de repente e depressa.

- Mas o homem não terá medo outra vez, se lhe acontecer alguma coisa nova?

- Não. Uma vez que o homem venceu o medo, fica livre dele o resto da vida, porque, em vez do medo, ele adquiriu a clareza… uma clareza de espírito que apaga o medo. Então, o homem já conhece seus desejos; sabe como satisfazê-los. Pode antecipar os próximos passos na aprendizagem e uma clareza viva cerca tudo. O homem sente que nada se lhe oculta.

“E assim ele encontra seu segundo inimigo: a Clareza! Essa clareza de espírito, que é tão difícil de obter, elimina o medo, mas também cega.

“Obriga o homem a nunca duvidar de si. Dá-lhe a segurança de que ele pode fazer o que bem entender, pois ele vê tudo claramente. E ele é corajoso porque é claro e não pára diante de nada porque é claro. Mas tudo isso é um engano; é uma coisa incompleta. Se o homem sucumbir a esse poder de faz-de-conta, sucumbiu a seu segundo inimigo e tateará com a aprendizagem. Vai precipitar-se quando devia ser paciente, ou ser paciente quando devia precipitar-se. E tateará com a aprendizagem até acabar incapaz de aprender mais qualquer coisa.

- O que acontece com um homem que é derrotado assim, Dom Juan? Ele morre por isso?

- Não, não morre. Seu inimigo acaba de impedi-lo de se tornar um homem de conhecimento; em vez disso, o homem pode tornar-se um guerreiro valente, ou um palhaço. No entanto, a clareza, pela qual ele pagou tão caro, nunca mais se transformará de novo em trevas ou medo. Será claro enquanto viver, mas não aprenderá nem desejará nada.

- Mas o que tem de fazer para não ser vencido?

- Tem de fazer o que fez com o medo: tem de desafiar sua clareza e usá-la só pra ver, e esperar com paciência e medir com cuidado antes de dar novos passos; deve pensar, acima de tudo, que sua clareza é quase um erro. E virá um momento em que ele compreenderá que sua clareza era apenas um ponto diante de sua vista. E assim ele terá vencido seu segundo inimigo, e estará numa posição em que nada mais poderá prejudicá-lo. Isso não será um engano. Não será um ponto diante da vista. Será o verdadeiro poder.

“Ele saberá a essa altura que o poder que vem buscando há tanto tempo é seu, por fim. Pode fazer o que quiser com ele. Seu aliado está às suas ordens. Seu desejo é a ordem. Vê tudo o que está em volta. Mas também encontrou seu terceiro inimigo: o Poder!

“O poder é o mais forte de todos os inimigos. E naturalmente a coisa mais fácil é ceder; afinal de contas, o homem é realmente invencível. Ele comanda; começa correndo riscos calculados e termina estabelecendo regras, porque é um senhor.

“Um homem nesse estágio quase nem nota seu terceiro inimigo se aproximando. E de repente, sem saber, certamente terá perdido a batalha. Seu inimigo o terá transformado num homem cruel e caprichoso.
- E ele perderá o poder?

- Não, ele nunca perderá sua clareza nem seu poder.

- Então o que o distinguirá de um homem de conhecimento?

- Um homem que é derrotado pelo poder morre sem realmente saber manejá-lo. O poder é apenas uma carga em seu destino. Um homem desses não tem poder sobre si, e não sabe quando ou como usar seu poder.

- A derrota por algum desses inimigos é uma derrota final?

- Claro que é final. Uma vez que esses inimigos dominem o homem, não há nada que ele possa fazer.

- Será possível, por exemplo, que o homem derrotado pelo poder veja seu erro e se emende?

- Não. Uma vez que o homem cede, está liquidado.

- Mas, e se ele estiver temporariamente cego pelo poder, e depois o recusar?

- Isso significa que a batalha continua. Isso significa que ele ainda está tentando ser um homem de conhecimento. O indivíduo é derrotado quando não tenta mais e se abandona.

- Mas então, Dom Juan, será possível que um homem se entregue ao medo durante anos, mas que no fim ele o vença.

- Não, isso não é verdade. Se ele ceder ao medo, nunca o vencerá, porque se desviará do conhecimento e nunca mais tentará. Mas se procurar aprender durante anos no meio de seu medo, acabará dominando-o, porque nunca se entregou realmente a ele.

- E como o homem pode vencer seu terceiro inimigo, Dom Juan?

- Também tem de desafiá-lo, propositadamente. Tem de vir a compreender que o poder que parece ter adquirido, na verdade nunca é seu. Deve controlar-se em todas as ocasiões, tratando com cuidado e lealdade tudo o que aprendeu. Se conseguir ver que a clareza e o poder, sem seu controle sobre si, são piores do que os erros, ele chegará a um ponto em que tudo está controlado. Então, saberá como e quando usar seu poder. E assim terá derrotado seu terceiro inimigo.

“O homem estará, então, no fim de sua jornada do saber, e quase sem perceber encontrará seu último inimigo: a Velhice! Este inimigo é o mais cruel de todos, o único que ele não conseguirá derrotar completamente, mas apenas afastar.

“É o momento em que o homem não tem mais receios, não tem mais impaciências de clareza de espírito… um momento em que todo seu poder está controlado, mas também um momento em que ele sente um desejo irresistível de descansar. Se ele ceder completamente a seu desejo de se deitar e esquecer, se ele se afundar na fadiga, terá perdido o último round, e seu inimigo o reduzirá a uma criatura velha e débil. Seu desejo de se retirar dominará toda sua clareza, seu poder e sabedoria.

“Mas se o homem sacode sua fadiga, e vive seu destino completamente, então poderá ser chamado de um homem de conhecimento, nem que seja no breve momento em que ele consegue lutar contra o seu último momento invencível. Esse momento de clareza, poder e conhecimento é o suficiente.””

Carlos Castañeda